"Bicôôô!!"

Finalmente ela dormiu!
Hoje foi o primeiro dia inteiramente sem o bico.

Não estava planejando nada, até que algumas situações apareceram juntas, coincidentemente e eu senti que podia ser uma boa oportunidade para tentar.
Primeiro foi a última crise de bronquite que fez com que a Lara usasse menos o bico, principalmente à noite, já que ela precisava respirar pela boca para aliviar a falta de ar.
Segundo que, como a minha faculdade está de greve, terei a cabeça mais livre para dedicar à noites mal dormidas. Sei que são poucas, mas com as que já estão acumuladas, já viram né!
Terceiro que, na semana passada, o bico dela rasgou. Rasgou bastante. Eu vi quando já estava em São Paulo e resolvi que não iria comprar outro. Ela nem ligou e continuou chupando. Como o rasgado estava crescendo, e eu estava preocupada do bico soltar na boca dela e acontecer alguma coisa ruim, tipo ela engolir a chupeta enquanto dormia, resolvi que num dia, assim que ela acordasse, eu terminaria de rasgar o bico e entregaria para ela.
"Estragou filha! E agora? Vai ter que ficar sem bico, tá?"

Esse dia foi hoje, mas não foi muito bem assim. Coloquei o bico na boca dela, e falei pra ela morder. Nessa hora eu puxei e ele rasgou. Ela ficou MUITO sentida e chorou bastante. A companhia na hora também não ajudou.
PAUSA: explico - estávamos hoje em Lagoa Santa com a família do papai (leia-se vovó Angela, vovô Márcio e tia Júlia) que não concorda em tirar o bico da Lara agora. Tá. Preciso dizer que eu nem ligo? Enfim, quando eu rasguei e a Lara chorou, o vovô e a tia Júlia ficaram adulando, falando que iam comprar outro, e falando pra ela chamar a mamãe de boba. Esse foi um desses momentos em que a gente engole sapo pro bem da nação. Peguei a Lara para distraí-la, afinal, estou firme na minha decisão, e a família do papai, apesar de resistente, sabe bem disso. DESPAUSA.

Ela nem lembrou de bico mais durante toda a manhã. Na hora da sonequinha na hora do almoço, ela pediu o "bico-uhm-mo" (agora ela chama o Dumbo de uhm-mo). Dei só o Dumbo e o "bico tá estragado, lembra?". 
Ela pediu pra ver o bico rasgado. Eu mostrei, ela saiu com a cabecinha pendente e foi ver Bolt. Mas aííí...
ela de repente estava chupando dedo. Tá, se for pra trocar o bico pelo dedo, melhor dar o bico de novo e tirar depois. É a minha opinião. Sentei do ladinho, distraí, tirei o dedo da boca, ela colocou de novo e me xingou. No final das contas ela tirou. Pediu mamadeira e dormiu.
Quando acordou, antes mesmo de abrir o olho chamou o bico. Nem toquei no nome e já chamei sua atenção para outra coisa. Almoçamos. Depois do almoço, voltando para casa, ela pediu mais uma vez "bico-uhm-mo", dentro do carro. Mais uma vez, falei que o  "bico tá estragado, lembra?". Ela estava bastante inquieta, com sono, calor e a falta do bico, claro! Chupou dedo de novo. Dessa vez menos tempo e eu ainda enchendo o saco dela pra ela tirar o dedo da boca. Depois de reclamar um bocado e chamar "mamããin" não sei quantas vezes, dormiu.
Acordou já estávamos em casa, foi brincar com os tios que ela estava morrendo de saudade e ai, quando a noite se aproximou, eu sabia que tinha que ter muita paciência. Tá que esse não foi o melhor dia para minha paciência reinar, mas mãe não escolhe, então vamos que vamos!

Ela pediu Bolt, "bico-uhm-mo", dedera, isso, aquilo, dedera, Bolt, bico, aquilo, isso. Deu uma resmungada. Levantou, brincou, correu. Deitava. Quase dormindo e começava a resmungar de novo. Mas pedir o bico mesmo foram poucas as vezes, afinal, ela sabia bem a minha resposta. Eu tentei ficar o mais perto dela possível para sanar a falta do bico. Até que deram 22:30, ela não se aguentava mais em pé, a peguei para trocar a fralda e aproveitei para deixá-la no quarto mesmo. Ela me viu mexendo no som e já começou a chorar. Nessas horas eu colocaria o bico. É, quem acha que a falta é só da criança está muito enganado.  Fechei a porta, apaguei a luz, acendi o abajur, dei o dumbinho e perguntei se ela queria estorinha. Se ela ainda não tivesse chorando, tinha pegado o livro e tacado na minha cabeça.  Só falou não quando eu comecei. Então eu guardei o livro e comecei a contar Chapeuzinho Vermelho de cabeça (tudo errado, daqueeele jeito, misturando histórias). Ela parou de chorar imediatamente para me ouvir. No ápice, quando a Chapeuzinho está prestes a descobrir que a vovózinha é o Lobo Mau, ela não quis mais ouvir e eu passei a contar a história da Branca de Neve. Falei: "Era uma vez um castelo....", desisti e comecei a cantar a música que a Branca de Neve canta no início do filme, que ela adora. Ela foi fechando o olhinho e pronto... dormiu!

Não. Não foi fácil. Mas foi melhor que eu esperava, por incrível que pareça.
Esse foi o primeiro dia. Sei que ainda temos outros pela frente. Mas o pior já passou (eu espero).
No início eu não estava com nem um pouco de dó (acho que a firmeza diante a família do Lucas estava mascarando meu lado sensível). Mas dentro do carro, vendo ela sentindo falta mesmo, comecei a ficar com vontade de me materializar num bico ali, naquele momento. Tenho certeza que se eu tivesse um bico novo aqui em casa acabaria cedendo e dando. Ainda bem que eu me conheço e nem comprei. Ainda estou morrendo de dó, porque eu sei o quanto ela gosta do biquinho dela. Mas sei também que essa oportunidade ótima apareceu e que quanto antes melhor!!!

Está dando até vontade de chorar agora, que minha ficha está caindo que ela está lá agora, deitada, sem o bico dela, só com o Dumbinho. Só não sei se o engasgo é por causa da falta que o bico está fazendo pra ela, ou se porque eu estou percebendo que minha filha está crescendo. Só sei que o nó está aqui, prestes a desatar.... e que eu continue firme nesses próximos dias, porque, pior que passar por isso, é passar por isso mais de uma vez!