Cabeça cheia, mãos tremendo, sobrancelhas preocupadas, frio na barriga, estômago embrulhando, nó na garganta e o coração acelerado apertando o tórax.
É, se alguém ai já levou o filho pra tirar sangue sabe do que eu estou falando.
E se a primeira vez não foi tão legal assim, a noite que precede a segunda é essa descrita aí em cima.
A médica pediu na última consulta para fazer controle do ferro, cálcio e vitaminas no geral. Achei importante porque a Lara não tomou quase nada daquele complemento de ferro e porque a alimentação dela não é das melhores - mybad!
Dessa vez eu conversei com ela ontem a noite que hoje iríamos a um médico de manhãzinha, mas um médico diferente. Ela disse: ok!
Acordamos, eu e o Lucas, para levarmos a pequena antes que ela acordasse e pedisse mamadeira.
Claro, ao trocar a fralda dela e sua roupa, ela acabou acordando, mas ficou naquela lombeira.
Já dentro do carro, ela perguntou: ón noix vams?
- Nós vamos ao médico, lembra filha?
Ela deu um sorriso e falou pro pai: "Eu não xola, pai! Já xô gandi."
Eu e o Lucas só trocamos aquele olhar de "tadinha, não sabe o que a espera".
Eu, querendo antecipar, só respondi: "É filha, você é grande. Mas esse é um médico diferente. É de fazer exame."
Chegando lá ela brincou enquanto esperava. Eu? Sabe a descrição da noite anterior? Então eleva à máxima potência. Sorte que eu fiquei longe do campo de visão da Lara, porque se ela visse meu nervosismo. (Explico: eu sou dessas que tem que tirar sangue deitada. A cor some, a visão escurece e puf, estatelo no chão. Levar o meu bem mais precioso pra tirar sangue então é uma tortura ainda maior.)
- "Lara Pinel Kraemer"
Lá fomos nós. Sentou e enquanto a enfermeira procurava a veia, ela ficou desconfiada, mas relaxou, achando que era só aquela massagem. E começou o "Mas, cadê o sangue? - Parte II".
Primeiro foi o braço esquerdo. A veia é fina; a enfermeira não chegou nem a furar.
Depois foi o braço direito. Massagem, massagem. Pronto, achou, mas é fina também.
Veio um outro enfermeiro para ajudar a segurar o braço.
Pernas presas entre as minhas, braço esquerdo preso, mamãe começa a cantar e a abraçar forte a cria, enquanto ela chora e a enfermeira TENTA achar a veia. De novo, novamente, o sangue custa a sair, e olha que dessa vez já foram puxando com a seringa direto... nada de mangueirinha! Ela não chorou horrores, como eu esperava, mas chorou normal e 'apenas' gritava: TÁ DUENO... QUELO IMBOLA!
Depois de intermináveis minutos, acabou. A coleta de sangue e o choro. Já o meu nervosismo? Esse continua até agora. A cabeça ainda dói, o estômago ainda embrulha. Pode ser fome também. Mas a cara fechada e a aparência sofrida, essa eu sei que só passa amanhã.
Chegando em casa, depois que acordou, mostrou pra vovó o curativo e contou, rindo, que chorou. Tadinha, com vergonha porque é grande e chorou. Quis abraçar forte e dizer que podia chorar o quanto quisesse, porque tirar sangue é uma das piores coisas do mundo! Mas só a confortei dizendo: "é filha, esse doeu um pouco né? Não tem problema, não tem que ir de novo! Você é muito linda. Te amo, viu?"
E espero que da próxima vez, daqui uns bons 10, 20, quem sabe 30 anos, eu já tenha me recuperado.