terça-feira, 22 de junho de 2010
O choro não vem da dor do tapa, mas da dor da decepção
Como dói ver uma mãe perdendo a paciência com o filho. Me vem uma fúria quase incontrolável! Talvez a única coisa que me segure no meu canto é o assunto discutido no post passado - se eu não quero que intrometam na criação da minha filha, não irei me intrometer na criação do filho dos outros. Mas que dá vontade, dá.
Todos temos dias ruins, e vez ou outra - às vezes sempre - descontamos o stresse nos outros, o que incluem os filhos (ou irmãos, como ainda costuma ser o meu caso). Crianças, principalmente as mais novas, não têm a consciência de não 'perturbarem' os pais nesses dias, e acabam sofrendo certo abuso por conta disso. Os pais, que mais deveriam respirar e contar até 10, ou entender que o filho não tem culpa de nada e só quer um pouco de atenção ou carinho, abusam da autoridade e do tamanho para gritar, xingar e bater na criança! E o pior são os pais que não admitem estarem errados, mesmo depois de esfriarem a cabeça. No outro dia, os pais se esquecem do que fizeram, mas o filho com certeza ainda se sente ofendido e decepcionado por que os pais, aqueles que ele tanto ama e o ensinam tudo, o machucou de forma tão incoerente.
Muitas vezes fico em casa cuidando dos meus dois irmãos menores (Dudu, 5 anos e Gabriel, 2 anos). Sempre peço a eles para não gritarem ou não fazerem bagunça (claro que eu sei que eles vão fazer os dois, mas não custa nada pedir). E sempre tem aquelas brincadeiras que todos sabem que vai acabar em algum, ou os dois, chorando, e também sempre aviso isso a eles. Tenho a sorte de, na maioria das vezes, o Dudu me escutar e obedecer, e se ele não faz, o Gabriel não insiste. Fico brava com os dois quando começam a fazer sacanagem um com o outro, e são nessas horas que acabo me descontrolando. Mas o meu descontrole é no máximo gritar. Pode dar vontade às vezes - raramente - mas ainda bem que me falta coragem de bater. Agradeço sempre por não me permitir bater nos meus irmãos. Se quando grito com eles sem motivo (devido a um stresse meu que não tem relação com eles) fico com remorso e peço desculpas, e converso com eles logo em seguida, quem dirá se algum dia eu batesse neles!
Me aperta o coração ver minha mãe gritando com os dois durante a noite, ou quando eles estão chorando. Se tem coisa que ela não suporta é choro de criança... e como isso irrita ela! Mas, o pior, é que ela se convence que se a criança não parou de chorar na primeira tentativa dela, é porque está fazendo pirraça, quando ela acaba batendo. Há pouco tempo estávamos no shopping eu, ela e o Gabriel. Ele quase nunca sai de casa, e quando sai, não costuma querer voltar. Indo embora, ele começou a fazer um dramazinho para que não voltássemos para casa. Passou rápido, e ele inclusive dormiu no caminho. Ao chegarmos, ele acordou. Chorou um pouco (choro normal de criança quando acorda) e começou a tossir - nessa época de frio ele está com muito muco, e tosse muito, chegando a vomitar. Essa foi uma das vezes que ele tem ânsia de vômito, e claro, ele chora mais! Mas minha mãe começou a gritar, dizendo que ele estava forçando o vômito por pirraça, deixando-o ainda mais nervoso. Saí de perto para não brigar com a minha mãe e piorar a situação. Da cozinha ouvi ele chorando e ela, aos berros, perguntando se ele queria apanhar de novo (ou seja, ela tinha acabado de bater nele). Cheguei na sala quando vi que ela tinha saído e, como sempre, o peguei no colo. Ele tinha parado de chorar, mas com o choro engasgado, e com aqueles suspiros de quem acabou de sofrer algum trauma, como se tivesse com dificuldade de respirar. Fiquei com ele no colo por alguns minutos, tentando chamar a atenção para outra coisa, e ver se ele esquecia. Mas, tenho certeza, esses atos impensáveis dos pais deixam marcas pra sempre. Depois de um tempo, ele estava com medo de passar perto da minha mãe, e não saiu de trás de mim, se escondendo quando a via. Acho que não teve coisa pior pra ela do que o ver agindo assim. E é sempre assim, passa meia hora e ela vem adular a criança, como se nada tivesse acontecido. Ah, se fosse o Dudu, esse aí fica chateadíssimo com quem bate nele ou grita sem motivo. E ele fica assim porque eu NUNCA deixei que fizessem isso com ele, já que quando ele tinha a idade do Gabriel eu morava com ele. Sempre consegui que ele entendesse as coisas conversando, e até hoje ele entende e é super compreensivo. Não sei porque minha mãe não fez isso também com o Gabriel. Infelizmente eu não estava tão presente na vida dele durante esses dois anos que se passaram.
Tenho um pouco de medo pois devo morar com meus pais e minha filha por pelo menos 3 anos. Minha mãe vai me desculpar, mas não vou deixar ela mimar minha filha quando estiver fazendo alguma pirraça (que por sinal é o único choro de criança que eu não me comovo), e muito menos gritar ou ENCOSTAR a mão nela para bater. Não quero nem pensar na minha reação se eu souber que isso aconteceu algum dia. Por sorte meu pai pensa como eu, e bater não é opção para ele, nem mesmo nas horas de nervosismo. Nunca encostou um dedo em mim ou nos meus irmãos.
Tenho HORROR a criança apanhando! Acho que os pais deveriam pensar duas, três, quatro, mil ... quantas vezes forem necessárias para desistirem da idéia quando cogitarem bater em seus filhos. Eles ficam traumatizados, com raiva, tristes, magoados, além de ser uma dor - tanto física quanto psicológica - absolutamente desnecessária. Seja lá o que a criança tiver feito, bater NUNCA é justificável ou a melhor forma de ensinar algo. NUNCA!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Não precisa nem falar que você será uma ótima mãe!
ResponderExcluirOi, eu li seu texto porque estava procurando na internet alguma coisa que me ajudasse o assunto. Eu também achava o fim da vida quando via uma criança apanhando. Mas agora que eu sou mãe... Eu costumo bater no meu filho de 3 anos, um tapa ou um chinelo na bunda. Dói, dói mesmo em mim. Eu queria saber como você consegue controlar, o que passa na sua cabeça para não chegar nesse ponto porque eu não estou conseguindo. Eu não quero bater nele. Depois que eu bato eu fico me culpando e me sentindo a última criatura da face da terra. O meu filho, por exemplo, não quer tomar banho. Eu seguro uns 3 dias mas lá pelo 3o 4o dia não dá mais, eu tenho que dar banho nele. É então quando ele começa a chorar insistentemente. Eu converso com ele, pergunto para ele o que é ruim no banho, por que ele não gosto de banho. Peço para ele levar brinquedinhos, experimentar a água com a mãozinha, tento distrair, etc.. Nada funciona. Ocorre que o choro dele mexe demais comigo, eu acabo perdendo a cabeça porque o choro dele a uma certa altura é insuportável. Eu não sei se você consegue me entender quando digo que o choro é insuportável para mim, eu quero dizer que eu sofro demais. É aí que eu digo para ele parar de chorar senão levará uma chinelada. Ele não pára de chorar mesmo assim. É quando eu acabo batendo nele. Olha, eu sei que você é contra isso, e por isso mesmo te escrevo. Por favor me ajude, eu gostaria de ser como você.
ResponderExcluirOlá 'ANÔNIMA'... antes de mais nada me desculpe a demora, mas fiquei fora por uns tempos. Enfim, acho difícil tentar te explicar o que passa pela minha cabeça. Uma vez ou outra chego a levantar a mão, sabendo que eu não terei coragem de bater. Normalmente, para extravazar essa minha impaciência, eu acabo dando gritos! Não gosto de jeito nenhum, mas acaba funcionando, porque eles não entendem o porque estou gritando, e ficam olhando para mim até eu dar alguma explicação.
ResponderExcluirNesse caso específico citado por você do banho, acho que é uma fase de quase toda criança chorar na hora do banho. O meu irmão mais novo de 3 anos também chora muitas vezes. Assim como você eu tento distraí-lo, e conversar dizendo que vai ser rápido e que se ele não tomar banho vai ficar sujo e doente, 'cheio de bichinho'. Quando ele não para de chorar tento apressar o banho, mas o deixo chorando. O que seu filho responde quando você pergunta o que tem de errado com o banho?
Gostaria muito de te ajudar mais. Se quiser me mandar e-mail para nos comunicarmos melhor: mtspinel@hotmail.com
Só de você estar procurando melhorar já é um ótimo começo! Beijo.
Ual, muito bem dito tudo que você disse,mesmo sendo um post antigo, até chorei. OKASOKAS [sério].
ResponderExcluirMinha mãe também é meio parecida com a sua, mas no meu caso foi um pouco mais estranho, pois quando eu era criança, ela era como você: um anjo de bondade. Nunca apanhei nem da minha mãe nem do meu pai. Eles sempre me explicaram o que era certo e o que era errado e eu nem me lembro muito de ser atentada e birrenta.
Massss .... Na minha pré adolescência, começou o inferno (:
Na verdade, até hoje não entendo o que aconteceu, eu chegava feliz do colégio e ia jogar conversa fora com ela, como sempre, mas ela passou a ficar cada vez mais irritada. Não sei porque ela estava irritada naquela época. Ninguém sabia. E qualquer coisa virava alvo do nervosismo dela, eu, meu pai e nossos cães. Ela gritava o tempo todo. Até aí, tudo bem, é irritante, mas é suportável. O problema é que logo depois ela começou a distribuir pancadas além das agressões verbais dela. Louca! E eu que estava entrando numa das fases "rebeldes" não ficava calada, sentia vontade de me defender... Consegui me controlar até um certo ponto, ignorava-a, não ficava muito tempo em casa e mal conversava mais com ela. Só o necessário. O máximo que acontecia é quando brigávamos e eu mandava ela calar a boca. Mas um dia ela veio me bater, e eu que nunca apanhei, só pude reagir da mesma forma. É muito triste, ou feio, sei lá, falar uma coisa dessas, que briguei de sair na mão com a minha própria mãe. Mas fazer o que, é a verdade. Isso durou alguns anos, tentei conversar várias vezes, ela é muito cabeçuda, sempre acha que tem razão como você mesma citou como acontece com algumas mães. Tive uma conversa séria em familia, mas também não adiantou de nada. Tudo tempo perdido. Com o tempo, ela esfriou e parou com esses acessos de raiva, que até hoje ela nunca me explicou. Vai saber, deve ter tido depressão. Só não sei PORQUÊ!
Depois disso, nunca mais fui tão chegada dela. Não a odeio, lógico, mas não tive mais vontade de aproximação. Passei o resto da adolescência super revoltada só com ela e agora, quem esfriou fui eu. Mas mesmo assim, nunca mais foi tão igual ...
Loucura né? hahaha bem, estou seguindo seu blog, desculpe o desabafo! ;*